segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

JESUS NÃO MORREU PELOS “NOSSOS PECADOS” E SIM POR ENFRENTAR O SISTEMA.

 


 

Jesus de Nazaré, o zelota, Rei dos Judeus

Interpretado como líder zelota, inserir Jesus de Nazaré em qualquer movimento político-revolucionário da época é uma tarefa difícil, mas o que pode ser afirmado a partir do prisma historiográfico é que Jesus de Nazaré foi um homem político-revolucionário, que seu ministério ocorreu por motivos político-ideológicos e que ele foi morto por sua ousadia. Aslan (2009) afirma que Jesus integrou o movimento zelota durante seu ministério e que sua história aconteceu da forma que é conhecida por que ele fez parte deste movimento. Os zelotes eram os homens judeus que zelavam pelo nome de Yahweh, uma “célula revolucionária” dos fariseus, partidários do movimento político judaico que tinha como premissa a ideia de que o povo hebreu deveria rebelar-se contra ocupação romana na Judeia lutando, se possível, armado. Mesmo depois da morte do Nazareno, o movimento zelota não caiu em desuso. Muito pelo contrário, estes movimentos insurretos levaram, por exemplo, à Primeira Guerra Judaico-Romana iniciada em 66 d.C., mesmo ano da morte de Paulo.

Imaginar a ação de Jesus de Nazaré, o homem revolucionário zelota infeliz com a ocupação romana, ansioso pela efetivação do Reino de Deus e associá-lo à uma imagem de líder espiritual carismático, pacífico e terno é completamente dubitável. Não há possibilidade de pensar em um líder revolucionário que lutou pelas vias da diplomacia neste contexto, mesmo que o ministério de Jesus fosse aparentemente pacífico. As qualidades humanas e os sofrimentos humanos de Jesus desempenham um papel singularmente reduzido na apologética deste período (DODDS, 1965, p. 136) e o que é importante para a compreensão do líder revolucionário não leva em conta o líder religioso e legitimador da grandeza da crença. A concepção de Jesus como líder zelota é fundamentada, por exemplo, pelas descrições contidas no Novo Testamento, a partir de falas aparentemente xenofóbicas ou nacionalistas e de promoção de violência. Jesus integrou parte de um movimento que a autoridade romana, relativamente simpática às lideranças judaicas, não pôde ignorar: Jesus era um zelota. Quando Jesus de Nazaré viveu existiam quatro partidos na região da Palestina: os fariseus, os saduceus, os essênios e os zelotas. Os essênios viviam marginalizados no território de jurisdição romana e esperavam que um dia o Império Romano caísse em ruínas. Os fariseus também seguiam essa linha de pensamento, mas ora ou outra pareciam aderir ao modelo romano de governo a fim de manter as boas aparências na relação com o poder imperial. Os saduceus esperavam pelo messias que iria salvar a Palestina do jugo romano, e enquanto isso não acontecia, participavam do governo romano na região. Os zelotas eram a força de oposição ao jugo romano e sua origem explica a ideologia nacionalista dos seus partidários. Para os zelotas, a Palestina não era de Roma. A Palestina era do Deus de Israel e dos judeus.

Jesus de Nazaré, um entre milhares de simples judeus, atravessou a Galileia realizando supostos milagres, convidando pessoas a se tornarem seus seguidores para consolidar o que ele chamava de “Reino de Deus”. Jesus de Nazaré lançou um movimento tão nocivo à ordem imperial que foi perseguido, capturado, zombado, torturado e morto como criminoso de Estado. A autoridade imperial romana não poderia ignorar este homem tão notável e perigoso à manutenção do poder imperial, mesmo que fosse impensável enfrentar a força policial romana sozinho. A violência do conflito entre o movimento de Jesus e Roma tinha como fundamento a premissa de que as relações de poder estabelecidas não deveriam ser modificadas. Jesus de Nazaré resistiu à relação de poder fundamentada pela legitimidade do César, e partindo do pressuposto de pensar na resistência política levando em conta o que está contido nos textos do Novo Testamento, a investigação historiográfica e sociológica sobre o contexto messiânico em que ele estava inserido, o Nazareno foi vencido, enfim, por uma relação de poder inexoravelmente sólida que não sofreria nenhum tipo de alteração pela ação de qualquer grupo e qualquer homem até o surgimento do Nazareno como líder político-revolucionário: Jesus de Nazaré foi morto por motivos político-ideológicos.

https://www.brasildefato.com.br/2018/03/31/artigo-or-jesus-nao-morreu-pelos-nossos-pecados-e-sim-por-enfrentar-o-sistema/

 

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